quinta-feira, 12 de março de 2009

Violência e Lucro

Nos últimos anos um assunto tem sido explorado pelos diversos meios de comunicação e formas de artes: a violência urbana. Na televisão, cinema e literatura, o tema de maior popularidade dos autores é, sem dúvida alguma, a transgressão e a agressão do convívio urbano, o que fica reduzido principalmente à criminalidade.
Alguns autores se consagraram escrevendo sobre a violência das cidades. Exemplos de grandes obras são: Capitães da Areia, de Jorge Amado, onde há o relato de um grupo de menores abandonados que passam a atormentar e roubar, se tornando uma ameaça para a sociedade; Inferno, de Patrícia Melo, onde é retratado o cotidiano violento de uma favela carioca e Reizinho, olheiro do tráfico, é o protagonista; e Estação Carandiru, de Dráuzio Varella, médico que trabalhou e escreveu sobre as estruturas das penitenciárias brasileiras, sobre seus códigos de ética e comportamento próprios. No cinema, os recentes filmes Última parada 174, de Bruno Barreto, e Era uma vez, de Breno Silveira, dão exemplos claros do que seria esse tema tão repercutido. Na televisão não é mais novidade, em Mulheres Apaixonadas, de Manuel Carlos, exibida em 2003 pela Rede Globo, a personagem Fernanda morreu vítima de uma bala perdida num tiroteio na cidade do Rio de Janeiro.
Questiono-me muitas vezes sobre o interesse de escritores como os citados acima na referência e uso de fatos tão graves e ao mesmo tempo comuns do nosso cotidiano. Está certo que muitas vezes, através de tais obras, podemos aprender e compreender melhor o caos onde vivem indivíduos que muitas vezes julgamos agir errado. Podemos até entender por meio dessas que, na verdade, o grande erro não vem dos assaltantes ou traficantes, vem das estruturas da sociedade que não educa, não reeduca, discrimina e marginaliza cada dia mais. Mas a questão principal é: será que esses autores estão preocupados apenas em abrir os olhos do público? Com todo o respeito e admiração aos citados anteriormente, a verdade é que o tema da violência vende, e vende muito. Não é a toa que as capas de jornais estão repletas de notícias que “cheiram” a sangue. Os leitores gostam de ser chocados, esperam um crime banal sobre o qual possam comentar os detalhes e assistir o ‘replay’. A mídia procura isso, é óbvio, quer lucrar! Penso que talvez os artistas de hoje também visem, acima de tudo, atrair o dinheiro de seu público. Não falo especificamente dos nomes por mim citados, mas de forma geral, me referindo principalmente aos novos artistas.
Todo mundo quer entender o porquê, comentar e saber mais sobre as tragédias do dia-a-dia. Livros, filmes e novelas que retratam esse tipo de história costumam apresentar suspense e envolver o espectador na trama. Talvez por isso a novela Mulheres Apaixonadas tenha conseguido paralisar milhares de pessoas em manifestações pela paz; talvez por isso filmes como Cidade de Deus, de Fernando Meirelles e Kátia Lund, e Tropa de Elite, de José Padilha, fiquem tão famosos por aí.
É muito fácil para as classes que têm condições de pagar um cinema encontrar entretenimento numa realidade tão distante, se surpreender e refletir por alguns instantes “puxa, como a vida deles é ruim”. Pro autor está bom, ele fica satisfeito, sua obra fez sucesso. Tudo é um grande show, a platéia se impressiona e aplaude. E não passa disso. Nenhuma atitude é tomada, ninguém pensa e nem tenta fazer nada para melhorar um pouquinho a nossa realidade de diferenças há poucos momentos representada e admirada.
Parece que o único jeito é absorver o que as obras podem nos trazer de bom e tentar desenvolver uma idéia e senso crítico. Infelizmente, achar um livro atraente e comovente não faz alguém resolver “mexer os pauzinhos” e contribuir para a melhora da sociedade em que vive. Quem sabe não ajudaria se nos aproximássemos mais da realidade e pensássemos que um dia nós é que poderíamos ser as vítimas de um desses casos.

De Raíssa Mello

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Trabalho para nota de Teoria Literária, escrito em 2008.

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